Dia 6770 de viagem, no mar, penso eu.
Estou rodeada de marinheiros e navios, não sei para onde, nem por onde começar a navegar, sinto-me perdida. Não sei do mapa e a minha bússola já não dá nenhuma direcção… Mas ao meu lado vejo tanta certeza, vejo tantos marinheiros que apesar de atarefados, sabem para onde remar, sabem e sonham com algo, e olham com cara de parvos quando eu digo que não sei como, nem para onde partir, acham que eu sou idiota por estar neste longo e largo oceano, sem saber se é este o meu caminho… Na verdade, acho que cada pessoa tem o seu tempo e irrita-me o facto de quererem que todos os marinheiros decidam o seu destino no mesmo momento, e marquem idades para isto e idades para aquilo. Sempre fui marinheira, desde que nasci pelo menos, e nunca tive um rumo ou uma rota traçada, não será porque alguém se lembra de me obrigar a escolher um caminho que eu escolha o certo. O meu percurso é feito de falhas, de caminhos sem fim, de becos, de tempestades, muitas vezes criadas pelos revirares e indecisões do barco, mas são minhas, são meus os percursos, e minha a batalha, e nunca quis senão viver e navegar, a não ser quando simplesmente não queria nada, e sempre evitei criar tempestades que afectassem outros… mas basta de me obrigarem a ser o que não sou e a escolher o que ainda não posso escolher.
Estou perdida, e desta vez provavelmente a culpa não é inteiramente minha, mas sim de todos estes sistemas, que obrigam a seguir um caminho ou outro, e não me deixam navegar aleatoriamente pelo mundo até descobrir o meu lugar. Estes sistemas entram nas cabeças dos marinheiros, que ou me olham da canto, pensando que não sei navegar, ou me mandam ir para outro sitio, mas o mais rápido possível, porque a sociedade não pode esperar!… Não pode esperar? Mas também ninguém lhe pediu que esperasse e certamente nem o iria fazer… E se eu não quiser mudar? Posso estar perdida e não saber qual é o caminho, saio deste caminho e vou para qual? Se eu não sei o que fazer neste mar o mais provável é não saber o que irei fazer num outro… Pois, na verdade, se eu soubesse qual o meu destino desejado, tinha partido logo rumo a ele.
Agora, gostava de citar parte de uma música de uma das melhores bandas portuguesas, Ornatos Violeta: "Pára de olhar par mim, deixa-me ser alguém, tão cedo não vais ver ninguém!"
Deixem-me lutar, deixem-me defender os meus ideais e parem, por favor parem de me obrigar a seguir os vossos sistemas e a ser igual aos outros.
Não me digam que não me compreendem, porque todos os outros marinheiros escolheram o caminho e não andam perdidos no mar sem rumo para seguir, não me venham com exemplos dos outros, porque se há algo que eu quero menos do que ser eu mesma é ser os outros, quero apenas seguir o meu caminho, seja ele o correcto ou o errado, nem vocês podem saber o que está bem ou mal. Podem achar, e pensar, mas isso também o posso fazer, mas nunca ninguém pode ter a certeza quanto ao que é verdadeiramente correcto. Porque se para vocês ser correcto é seguir exactamente os vossos sistemas, para mim o possível ideal seria quebrá-los.
Deixem-me navegar, deixem-me ser, deixem-me viver!
Uma boa noite de trabalho, Marinheiros,
Aniratac (Como quiserem, chamem-me de estranha!)
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