quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Dia 6830 de viagem, no mar que não me permite ser.

Dia 6830 de viagem, no mar que não me permite ser.

Bom dia marinheiros,

Será impossível esta sensação? Sentir que deixamos imensos barcos, imensos tripulantes, imensas aguas em deferimento de uma coisa só, algo que podia ser um sonho, mas que na verdade não é nem nunca foi, um único caminho, que não permite afluentes, e os que tem destrói. Um caminho, que nem sabemos se será o nosso. Um só lugar um só estado que não nos permite viver para além do barco. Um caminho que não permite velas nem lemes, nem outro tipo de tecnologias. Um caminho em que as mãos remam, em contacto directo com as águas. 

Já não existe mais do que este caminho, já não há viva, perdeu-se em algum lugar. Apenas vejo a tentativa de sobrevivência. Não chega ser um mar desconhecido, que ainda por cima me obriga a largar tudo, até a própria vida.

Arranca de mim, sem qualquer tipo de piedade toda a minha vida, todas as minhas paixões, tudo o que faz parte de mim. Arranca-me de mim mesma, e nem autorização pediu! 
E vejo pessoas a usar velas transparentes, e outras tecnologias para chegarem mais longe, mas eu não consigo eu apenas me tenho a mim (pelo menos aquilo que ainda não me tiraram).

Já não navego, apenas nado desesperadamente à procura de terra.


Boas navegações.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Dia 6827 de viagem, no barco.

Dia 6827 de viagem, no barco.

Precisava de partir para outro mar, num dos pequenos barcos salva-vidas navegar para outro lugar, sem tripulação para além de mim, sem exageros, sem coisas desnecessárias. Precisava, literalmente de um salva-vidas, que salvasse a minha, para que eu aprendesse a navegar e a viver outra vez. Precisava de respirar, e ter o meu espaço e tempo. Precisava de mudar, mudar na calma melodia do silêncio azul. 

Não entendo porque é que nós, seres humanos, nunca estamos satisfeitos com nada, nunca somos suficientemente felizes. Se temos algo queremos mais, como num ciclo infinitamente vicioso. Não nos contentamos com o que somos, nem com o que temos. Precisamos sempre de mais!

Paro de escrever, porque aquela dor voltou! Se calhar a solução é deixar um pouco a tripulação, ir navegar sozinha, sem ninguém saber para onde, nem como, nem porquê. E, talvez volte, é uma possibilidade. Ou talvez não venha a tempo de voltar. Provavelmente, melhor é ir, mas não num barco. Vou nadar no mar profundo, talvez lá me encontre. Sem barco, só eu e o meu corpo!

Mas como sei, na verdade, vou deixar-me ficar por aqui… no barco, sozinha, num dos pequenos cubículos, imaginando a vida fora do barco e pensando que seria bom se daqui sai-se… Mas não saio, nunca saio, só imagino.


Hoje, nem sei como me despedir….

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Dia 6820 de viagem, no mar, apenas.

Dia 6820 de viagem, no mar, apenas.

Serei a única marinheira que todos os dias pensa em escrever, pensa no que escrever, mas não tem tempo para o fazer? Não o consegue fazer? E Sente-se mal por isso? E fico perdida um pouco por não poder declarar por escrito tudo aquilo que penso. Sinto o caminho inseguro, não vejo tempestades grandes, que afectem o interior do barco, e estou resguardada por lá, mas com pouco tempo para o refugio, para a meditação. Sinto que tenho duas vidas e que as tenho de viver em simultâneo mesmo quando elas não se juntam. Sinto falta de uma e de outra, e o som entre elas é tão  distante e tão curto por vezes, ou um prolongamento de uma melodia, que apesar de percorrer os meus dias, ainda sou incapaz de a identificar, ou retratar. 
Preciso de ar para a tripulação, de tanta azafama por vezes, esquecemo-nos de respirar, de encher os pulmões de ar num movimento rápido, e deixarmos o ar sair levemente como um assobio que quase tenta repetir a tal melodia. O que fazemos aqui? Qual é o propósito da vida? Porque pensamos nós tanto no dia de amanha? Que na verdade nunca chega…. Porque pensamos tanto no dia de ontem? Que está eternamente acabado e não há nada que possamos fazer quanto a isso… E esquecemo-nos do simples acto de respirar, algo predominante na nossa vida… Respirar leva-nos ao presente, ao dia de hoje, a este minuto! Não tentem encher os pulmões de ar e viver toda a vida tentando que o ar não saia de lá! Tentando sufocar-vos a vos mesmo…. Respirem! Tanto ar à vossa volta e continuam sem respirar…. que mundo é este que vos obriga a não ver? a não sentir? Sao livres respirem da forma como quiserem, mas respirem e levem dentro dos pulmões os ventos de todas as vossas navegações.
Cumprimentos da vossa sempre marinheira,
Catarina


P.S. Hoje durante a viajem de comboio, fui na ultima carruagem, e vi a linha a escapar-me das mãos com uma velocidade louca, e tudo a ficar para trás…. Será que é assim que vivemos? O tempo não faz exactamente isso… escapa-nos das mãos!

sábado, 3 de janeiro de 2015

Dia 6802 de viagem, na dormência de quem sou

Dia 6802 de viagem, na dormência de quem sou

Devo pedir desculpas a todos os marinheiros, porque nem no Natal fui capaz de vos desejar um Feliz Natal como seria correcto, pelo menos eticamente. Por vezes é divicil vir e escrever, mesmo sem tema, escrever pela simplicidade de escrever, por vexes é divicil nesta vida apresada, ter tempo para escrever aquilo que a minha cabeça pensa todo o dia mesmo quando não devia. E por isso escrevo a estas horas, e não a horas habituais, ainda mal o dia começou e já estou eu a escrever supostamente sobre ele. Mas, hoje, o que eu escrevo não é apenas sobre o hoje é sobre uma espécie de nevoeiro estranho que sinto no barco. 
Sinto como se agora tivesse duas vidas em mim, estou num lugar e tenho saudades do outro, estando no outro tenho saudades do primeiro, Parece que mudo de barco enquanto viajo, uso barcos diferentes na travessia, a decoração é igual nos dois, mais a vida parece outra. E se penso no outro barco, entro como que numa dormência e um nevoeiro, feito de partículas estranhas com um cheiro indecifrável esvoaçasses em meu redor, e as unidas coisas que se lê por entre as confusos do lugar são: Quem sou eu? Onde estou? O que faço aqui?… Pergunto-m infinitamente quem eu sou realmente se uma das duas que sinto, se outra qualquer, parece haver um muro invisível que mesmo sem eu notar atravesso durante uma dormência de 3 ou 4 horas de viagem, e se vai repetindo como replicas de um sismo aleatoriamente.
Eu não consigo ser uma, como conseguirei ser duas? O ar que respiro é cada vez menos e o pensamento cada vez tem menos liberdade.

Prometo que mais tarde desenvolvo este tema mais profundamente, mas por enquanto Desejo apenas um bom dia marinheiros!