quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Dia 6820 de viagem, no mar, apenas.

Dia 6820 de viagem, no mar, apenas.

Serei a única marinheira que todos os dias pensa em escrever, pensa no que escrever, mas não tem tempo para o fazer? Não o consegue fazer? E Sente-se mal por isso? E fico perdida um pouco por não poder declarar por escrito tudo aquilo que penso. Sinto o caminho inseguro, não vejo tempestades grandes, que afectem o interior do barco, e estou resguardada por lá, mas com pouco tempo para o refugio, para a meditação. Sinto que tenho duas vidas e que as tenho de viver em simultâneo mesmo quando elas não se juntam. Sinto falta de uma e de outra, e o som entre elas é tão  distante e tão curto por vezes, ou um prolongamento de uma melodia, que apesar de percorrer os meus dias, ainda sou incapaz de a identificar, ou retratar. 
Preciso de ar para a tripulação, de tanta azafama por vezes, esquecemo-nos de respirar, de encher os pulmões de ar num movimento rápido, e deixarmos o ar sair levemente como um assobio que quase tenta repetir a tal melodia. O que fazemos aqui? Qual é o propósito da vida? Porque pensamos nós tanto no dia de amanha? Que na verdade nunca chega…. Porque pensamos tanto no dia de ontem? Que está eternamente acabado e não há nada que possamos fazer quanto a isso… E esquecemo-nos do simples acto de respirar, algo predominante na nossa vida… Respirar leva-nos ao presente, ao dia de hoje, a este minuto! Não tentem encher os pulmões de ar e viver toda a vida tentando que o ar não saia de lá! Tentando sufocar-vos a vos mesmo…. Respirem! Tanto ar à vossa volta e continuam sem respirar…. que mundo é este que vos obriga a não ver? a não sentir? Sao livres respirem da forma como quiserem, mas respirem e levem dentro dos pulmões os ventos de todas as vossas navegações.
Cumprimentos da vossa sempre marinheira,
Catarina


P.S. Hoje durante a viajem de comboio, fui na ultima carruagem, e vi a linha a escapar-me das mãos com uma velocidade louca, e tudo a ficar para trás…. Será que é assim que vivemos? O tempo não faz exactamente isso… escapa-nos das mãos!

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