Dia 6863 de viagem, num mar de medo egoísta e esperança disfarçada.
A vida consegue ser mesmo efémera, e por vezes esquecemo-nos disso, Não aproveitamos todos os segundos para conhecer os outros, os que nos rodeiam, não aproveitamos todas as oportunidades que temos para estar com alguém. Mas, por vezes, ma ventania dá cabo de nós, e percebemos que poderemos nunca mais poder ver alguém. Não que isso seja certo, mas apenas porque um acontecimento nos fez pensar nisto. Na verdade, essa possibilidade já existia desde o nosso último adeus.
Por vezes de um momento para o outro tudo mudou, mas para nós, para aqueles que não estavam nesse momento, esse momento pode ser uma semana, um mês, ou mesmo um ano depois. Esse momento tardio é que muda a nossa vida, esse momento é aquele em que passamos a saber o que aconteceu. A distancia entre esses dois momentos é a nossa ilusão e ignorância, nessa distancia nos ainda não nos preocupamos porque apesar de ter acontecido, nos ainda não temos consciência disso.
Custa-me a acreditar que algo tão injusto possa ter acontecido. Não, não a conheço assim tão bem, na verdade apenas passei uma pequena parte da minha vida com ela, mas cada vez me aperta mais o medo de não a poder conhecer. Cada vez fico mais dividida entre a certeza de a poder voltar a encontrar, de que tudo ficara bem, e o medo, porque não posso chamar outra coisa, e o medo de não a poder voltar a ver, e conhecer melhor tal rapariga que sempre me soou fantástica.
E isto tudo parece tão egoísta e egocêntrico. Eu não posso mudar nada, sou inútil. E fico aqui a pensar na efemiridade da vida, e mesmo que não queira, na verdade, não estou a pensar em qualquer vida estou a pensar na minha e um pouco nas que conheço. Não penso naquelas que existem no outro lado do mundo e que apesar de saber, e de por vezes ter vontade de as melhorar, me passam rasteiras ao pensamento. Não penso no vizinho da frente que nunca vi, não sei sequer se a vida dele ainda existe ou não.
Estou aqui a pensar na minha vida, na possibilidade de ela acabar de um momento para o outro. Estou a pensar no arrependimento que vou sentir se não puder voltar a falar-lhe, e no medo que tenho de isso acontecer.
No fundo, por trás de todo o medo egoísta resta-me acreditar que tudo irá ficar bem. Apesar de não a conhecer super bem, considero-a alguém que merece bastante atenção para se conhecer o seu grande valor, e gostava de cumprir com o tal prometido café em Lisboa.
Força a todos os marinheiros, principalmente ao que são próximos desta. E claro, muita força a esta marinheira especial que espero que volte a navegar, para nos encornarmos em alto mar.
Saudades de marinheira.