quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Dia 6863 de viagem, num mar de medo egoísta e esperança disfarçada.

Dia 6863 de viagem, num mar de medo egoísta e esperança disfarçada.
A vida consegue ser mesmo efémera, e por vezes esquecemo-nos disso, Não aproveitamos todos os segundos para conhecer os outros, os que nos rodeiam, não aproveitamos todas as oportunidades que temos para estar com alguém. Mas, por vezes, ma ventania dá cabo de nós, e percebemos que poderemos nunca mais poder ver alguém. Não que isso seja certo, mas apenas porque um acontecimento nos fez pensar nisto. Na verdade, essa possibilidade já existia desde o nosso último adeus. 
Por vezes de um momento para o outro tudo mudou, mas para nós, para aqueles que não estavam nesse momento, esse momento pode ser uma semana, um mês, ou mesmo um ano depois. Esse momento tardio é que muda a nossa vida, esse momento é aquele em que passamos a saber o que aconteceu. A distancia entre esses dois momentos é a nossa ilusão e ignorância, nessa distancia nos ainda não nos preocupamos porque apesar de ter acontecido, nos ainda não temos consciência disso.
Custa-me a acreditar que algo tão injusto possa ter acontecido. Não, não a conheço assim tão bem, na verdade apenas passei uma pequena parte da minha vida com ela, mas cada vez me aperta mais o medo de não a poder conhecer. Cada vez fico mais dividida entre a certeza de a poder voltar a encontrar, de que tudo ficara bem, e o medo, porque não posso chamar outra coisa, e o medo de não a poder voltar a ver, e conhecer melhor tal rapariga que sempre me soou fantástica.
E isto tudo parece tão egoísta e egocêntrico. Eu não posso mudar nada, sou inútil. E fico aqui a pensar na efemiridade da vida, e mesmo que não queira, na verdade, não estou a pensar em qualquer vida estou a pensar na minha e um pouco nas que conheço. Não penso naquelas que existem no outro lado do mundo e que apesar de saber, e de por vezes ter vontade de as melhorar, me passam rasteiras ao pensamento. Não penso no vizinho da frente que nunca vi, não sei sequer se a vida dele ainda existe ou não.
Estou aqui a pensar na minha vida, na possibilidade de ela acabar de um momento para o outro. Estou a pensar no arrependimento que vou sentir se não puder voltar a falar-lhe, e no medo que tenho de isso acontecer.
No fundo, por trás de todo o medo egoísta resta-me acreditar que tudo irá ficar bem. Apesar de não a conhecer super bem, considero-a alguém que merece bastante atenção para se conhecer o seu grande valor, e gostava de cumprir com o tal prometido café em Lisboa.
Força a todos os marinheiros, principalmente ao que são próximos desta. E claro, muita força a esta marinheira especial que espero que volte a navegar, para nos encornarmos em alto mar.

Saudades de marinheira.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Dia 6852 de viagem, no vazio.

Dia 6852 de viagem, no vazio.

Boa noite Marinheiros,

Não quero dizer que esteja a correr mal ou bem por causa da tempestade, acho que o problema é mesmo o vazio. Não estou mal. Mas também não estou bem. Porque não é nada. É vazio o espaço. De tão vazio nem espaço tem para algo acontecer. É apenas e nada mais que vazio. Não me leva a nada, nada muda. Permanece tudo igual, tristemente igual. Reme para onde reme, nada muda. É tudo infinitamente vazio. E neste momento eu preciso de um finito, preciso de algo. Estou naquele espaço depois de uma tempestade em que não é nada. Quando esse espaço dura pouco, quase nem nos apercebemos dele. Mas quando ele continua permanentemente rodopiando em nós, torna-se terrível. Chegamos ao ponto de querer voltar à tempestade, porque pelo menos tínhamos algo para lutar, nem que fosse para sair dela. Aqui, não temos nada para lutar, não temos nada que fazer, observamos o vazio que nada nos diz. Observamos tudo de fora, como se nada nos atingi-se nem fizéssemos parte de nada. Mas a verdade é que tudo nos toca, e é capaz de nos magoar. Mas como estamos de fora, distantes, do outro lado, ninguém vê o que nos toca, ninguém vê o que sofremos. E se não estamos mal, pensam eles, temos de estar bem. Esquecem-se sempre que há o espaço onde o nada acontece e o vazio existe. Deixamos de ser e estar. Para que a nuvem inexistente caia sobre nós, e mesmo sem existir, nos afecte por dentro.

Neste ponto é quando temos de aprender a viver outra vez. Fica a duvida: Será melhor esquecer os outros mares? E tentar viver apenas num?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Dia 6846, mar/barco, lugar indefinido.

Dia 6846, mar/barco, lugar indefinido.

Passo o tempo com saudade de um barco, mas quando passo por ele, parece que nunca está igual. Ou simplesmente eu não estou igual e já não tenho o mesmo espaço nesse barco. Como se na verdade, quando volto, não chegasse a entrar, fica-se apenas a observar de mais perto.Como se houvesse algo a separar-me dos marinheiros, como se tudo aquilo fosse estranho para mim. E vivi eu na ilusão de ter dois barcos, onde teria o meu espaço onde me sentiria em casa, e na verdade não tenho nenhum deles. Apenas os observo, mas já não vivo em nenhum, já não sei se posso chamar casa a algum. Fico como que paralisada, transparente, perdida. 

Saio sempre de um barco ansiosa por chegar a outro, mas cada vez esse outro me é menos familiar, e não sei o que mudou, não sei o que mudar, agora, se calhar fui apenas eu. 

Caminho para um espaço indefinido onde possa viver, ou pelo menos tentar viver. Tudo é indefinido aqui, agora. E tanto me sinto em casa, como os meus como sinto que já não são meus. Já não faço parte daqui.


Cumprimentos Marinhos!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Dia 6843 de viagem, o lugar não importa.

Dia 6843 de viagem, o lugar não importa.


Por vezes pergunto-me roque sou eu que escrevo sobre a viagem, porque sou eu que escrevo sobre o barco e sobre a navegação, se na verdade sou tão inútil para ela?


(Por vezes surpreende-me como acaba sempre tudo bem. Mesmo quando alguém me magoa ou me desiludi, isso é indiferente, porque ela nem vai sentir, vai tentar desculpar-se com qualquer coisa, eu irei respirar fundo e dizer “Na boa, não faz mal!”. E tudo fica bem até eu voltar a cair, e isto se repetir, vezes sem conta.)

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Dia 6841 de viagem, num semi-mar.

Dia 6841 de viagem, num semi-mar.

Marinheiros, tenho-vos a dizer que tudo o que sou e faço fica sempre por metade. Estou metade neste grupo, sou mais ou menos participante naquilo, sou quase aquilo. No fundo resumo-me a uma palavra “semi”. Ou terei de dizer “semi-resumo-me”? 
Gostava de seguir o nosso génio, na voz de Ricardo Reis: 
Para ser grande, sê inteiro: nada 
          Teu exagera ou exclui. 

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és 
          No mínimo que fazes. 

Assim em cada lago a lua toda 
          Brilha, porque alta vive. “

Mas não acontece porque sou sempre metade de mim. Se calhar o meu “inteiro” é apenas uma metade. Gostava de puder ser inteira em algo, mas fico-me sempre na metade.
Eu semi-sou, semi-faço, semi-existo. E isto, Marinheiros, assusta-me bastante!

Espero que vocês não tenham em vós “semis”.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Dia 6840 de viagem não digo perdida, mas certamente parece.

Dia 6840 de viagem não digo perdida, mas certamente parece.

Existem pessoas especiais que por vezes nem tempo temos de admirar. O tempo voa a nossa frente e não sei que caminho seguir agora. Mas parei 5min e apercebi-me o quanto às vezes sou injusta. Sempre tive a vida dividida em pequenas partes, mas agora essas pequenas partes arrastaram-se para uma metade do dia a dia, e uma outra parte caiu de repente e empurrou as pequenas partes para a tal metade. Dei por mim agora, ao ver que essas duas vidas lutam dentro de mim, como as pequenas partes lutavam mas estas exigem mais tempo, tem mais pessoas incluídas, e me deixam a tremer.  Sinto que ao tentar manter as duas, estou a perde-las, principalmente a mais antiga. Sinto-a cada vez mais distante e temo mesmo que me fuja da mão antes de eu conseguir agarra-la. Ela já deve ter caído de mais e eu mal me apercebi. Estou paralisada nada consigo fazer para a agarrar. 
Sei que este texto nem sentido tem, e peço desculpa,… Mas imaginem-se no meu lugar: Sentir que estão a perder aquilo que demoraram 18 anos a construir. Para alguns isto deve ser só parvo. 18 anos para alguns não é nada, ou quase nada, mas para mim é uma vida.

Desculpem a confusão, Marinheiros!




Sinto-me sozinha no barco! Apesar de ouvir tantas vozes tantos risos, e até de ver tanta gente, sinto-e simplesmente sozinha… Não sei o que fazer, não há nada que me faça sentir menos sozinha.tudo o que eu faço está errado, o que eu decido, e principalmente as decisões as quais mais me dedico, levam sempre a um mau porto, isto quando o barco não se destrói antes de lá chegar.o combustível do barco já acabou, e agora estou sozinha a remar. Mas as minhas forças já são poucas, preciso de parar e de encontrar as pessoas e não apenas corpos.

Isto de pegar 3 vezes no diário de bordo para escrever dá nisto.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Dia 6838 de viagem, no mar quase no oceano.

Dia 6838 de viagem, no mar quase no oceano.

Olá marinheiros,
Sinto-me a perder as duas vidas que tinha. Já não faz qualquer tipo de sentido a minha existência, porque é apenas isso, existência. Só há vazio. Não há tempestade, mas também não há sol. Não há nada no vazio.

A dislexia está cada vez maior, custa um pouco a escrever. Penso, mas não escrevo o que quero.

Um dia irei recompensar-vos.


Agora o meu desejo é viajar!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Dia 6835 de vigem, em Lisboa, talvez.

Dia 6835 de vigem, em Lisboa, talvez.

Sei que ainda agora começou o dia, mas tinha de partilhar o pensamento repentino.

Já se aperceberam que aquilo que nós mais conhecemos somos nós, é na verdade não fazemos a mínima ideia de quem somos?

Vou voltar ao trabalho, o barco espera-me.
Até breve,
Catarina, talvez.


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Dia 6833 de viagem, num barco novo, que mantém quase tudo do antigo.

Dia 6833 de viagem, num barco novo, que mantém quase tudo do antigo.

Apenas vos queria deixar uma frase de Charles Sanders Peirce: “Entra em teu barco do devaneio, desatraca no lago de pensamento, e deixa o sopro do firmamento encher tua vela. Com teus olhos abertos, acorda para o que está à volta ou dentro de ti, e abre conversa contigo mesmo; pois assim é toda meditação”

Espero que estejam bem, um destes dias volto ao mundo!