Dia 6883 de viagem, num mar qualquer com reflexos de pôr-do-sol.
Desculpem marinheiros, passei demasiado tempo sem escrever, mas mesmo hoje não sei o que dizer. A viagem está feliz, mas estranha. O tempo ameno. Apesar da grande nuvem cinzenta que nos assombra, o sol ainda brilha com força. Brilha de manha ao fim do dia, momento em que o mar se torna laranja e as aguas calmas, provavelmente com sono dos tantos barcos que por elas navegam.
Não se ouve,… apenas as pequenas ondas a bater no barco, e algumas vozes de marinheiros distantes.
Há demasiado a acontecer, o destino e o rumo permanecem nulos. Existe apenas, um desejo de reação, não minha, mas de uma outra marinheira.
Não consigo definir o meu estado (anestesiada? Talvez), ou o do navio. A viagem anda simplesmente estranha. E rápida, talvez.
Tenho reencontrado marinheiros de outras navegações. Algumas longas, outras pequenas, talvez um dia a história dessas navegações seja maior, mas por enquanto são apenas vários encontros e desencontros.
Ah! Sempre desejei poder colocar um pôr-do-sol no papel, ou mandá-lo a alguém. Sempre quis ter o poder de o levar comigo. Ou de o saber descrever. Mas a sua beleza é inatingível e a sua singularidade me afasta dele. Nem desenhos, nem pinturas, nem sequer fotografias o conseguem captar na sua plenitude. E palavras? Não há palavras suficiente para isso. Não há palavras suficientes para descrever as suas cores e reflexos. É por isso que há muito tempo que desejo o poder de o alcançar, e não apenas de o observar majestosamente.
Oh, desculpem, devia falar da navegação, mas fiquei perplexa com o momento. No barco anda tudo estranho, mas não quero dizer que anda infeliz. Gostava apenas de mandar esta nuvem para longe. E claro de não ser invisível para alguns antigos marinheiros! Se calhar é possível descativar alguém, e deixar de ser uma necessidade para o outro e de ter necessidade do outro.
Não sei que mais dizer, peço desculpa pela intermitência.
Boas viagens!
Boas viagens!