quinta-feira, 21 de maio de 2015

Dia 6938 de viagem, algures entre a saudade e o esquecimento.

Dia 6938 de viagem, algures entre a saudade e o esquecimento.

Boa tarde Marinheiros,
Como há muitos anos digo, o meu maior medo é do “esquecimento”. Tenho medo de me esquecer de momentos, pessoas, vivências e mesmo que seja um pouco egocêntrico tenho medo de ser esquecida. Não eu não quero que todo o mundo se lembre de mim eternamente, nem por aquilo que sou nem por aquilo que faço, só gostava que certos marinheiros se lembrassem de mim, só aqueles em quem eu penso diariamente, e que estando perto ou longe penso todos os dias, e com vontade de os abraçar. A verdade é que hoje apercebi-me de vez que já fui esquecida por alguns dos marinheiros mais importantes para mim. Não só fui esquecida com fui substituída por muitos outros, provavelmente melhores, certamente melhores, mas infelizmente essa ideia só faz com que doa mais. Talvez fosse melhor eu não ter medo do esquecimento, e ser mais esquecida do que os outros, assim não sofreria tanto ao ver que fui esquecida.
O que é que eu fiz para ter de ser esquecida? Simplesmente pus-me a caminho e comecei a navegar, e uns meses depois já não sou mais do que uma conhecida para muitos dos marinheiros com quem partilhei quase tudo, parece que já não os conheço, e eles arranjaram quem os conhecesse melhor. Gostava que isto não doesse, mas não consigo evitar, tento não pensar e talvez esquecer-me, tento inventar outras historias e justificações, tento enganar-me, mas já não serve de mais nada. Passaram-se 8 meses de viagem desde que parti, e já sou um objecto estranho no meu lugar. Como será daqui a 2 ou 3 anos? Se calhar o melhor é esquecer as origens, e algumas das pessoas que mais importam na minha vida, e tentar, tentar simplesmente começar do zero, não ser ninguém, em lado nenhum. Caminhar por entre ruas desertas, ou ruas povoadas com seres insensíveis a mim, ser isoladamente, e não ser. Talvez não ser, porque se nada sou para os outros, porque irei tentar ser para mim mesma? 
Será é o facto de eu só ser para mim que me torna tão egocêntrica… talvez se eu escolher não ser, será melhor para o mundo.
Porque é que existe a distância? Porquê a saudade? E acreditem Marinheiros, a saudade dói mais quando só é sentida de um dos lados.
Porque o tempo é escasso e é necessário segurar o barco para que não vire, deixo-vos um poema que escrevi à cerca de 2 anos, mas que continua a ser tão real:

A saudade come-nos vivos,
Mata-nos aos poucos,
Corroí os nossos  corações,
Até destrói os corações de pedra.
Não conseguimos ser imunes a essa dor,
Não conseguimos ser duros
Com este sentimento sempre a empurrar-nos
Para um poço de tristeza.
Entramos assim em desespero,
Porque ainda não aprendemos a sair dali.

A saudade é o espelho transparente do amor,
Que pela distância, escorre, involuntariamente pelos olhos. 

Com saudades,

não ser, talvez

Sem comentários:

Enviar um comentário