sexta-feira, 17 de julho de 2015

Dia 6994 de viagem, no cais para além do navio.

Dia 6994 de viagem, no cais para além do navio.

Não imaginam marinheiros o quão estranho é ver um barco no qual navegamos durante mais de 15 anos partir, e não estar a remar lá dentro. Ver uma família, que em tempos foi minha, não, que ainda é minha, a velejar sem mim. E eu parada no cais. Apenas olho pelos olhos transparentes da saudade, que aos poucos deixam escorrer um pouco da transparência, enquanto numa distancia indefinida, de tão perto parece tão distante, uma onda se desenrola livremente. 

Vejo o movimento do barco, e parece que ele está em mim, que faz parte do meu ADN mas na verdade estou parada no cais, simplesmente parada, a olhar… todos os passos e movimentos foram quase que esculpidos em mim, e eu sinto-os por dentro, sem os poder expulsar e atirar…

E mais não digo, porque as palavras escorregam-me pelo olhar...