segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Dia 7039 de viagem, fim de tarde em Istambul

Dia 7039 de viagem, fim de tarde em Istambul

Vagueio sozinha pelas ruas de Istambul, apenas eu e a minha sombra. Sozinha, ou deverei dizer acompanhada de mim? Os meus pais já estão, provavelmente, em casa com os meus irmãos mas eu pertenço às ruas, permaneço nelas. Sigo o caminho para casa. Perco-me e encontro-me em cada esquina, em cada gesto, em cada rosto. Detenho-me. Detenho-me na luz que cai sobre Istambul, neste fim de tarde, cai e cobre todo aquele lugar... por entre mesquitas, palácios e pela manga de ouro. Principalmente sobre esta. Já não vejo o sol, mas a sua luz ainda colori o céu. E eu que ando perdida entre gestos, olhares e pessoas na rua, eu, que tanto gosto de pormenores, detenho na imensidão da paisagem, da água, da luz. Devia seguir o caminho, mas o meu corpo não se move, apenas as mãos tem movimentos esquizofrénicos para registar o momento. Mas é impossível, logo eu que odeio essa palavra.
Foi a primeira suspensão. Mal o ar volta a circular, o ritmo cardiaco a estabilizar, uma tempestade de pensamentos invade a minha alma. Um remoinho de ideias, desejos e pessoas. Algo sai disparado, quase como cuspido desse remoinho. És tu. Apenas tu.
Letras e palavras recaem em mim, como se estivesse a escrever num postal para te mandar, apenas sobre aquela luz. Mas não escrevo, estou apenas parada, sem andar. Quero chegar a casa para escrever tudo isto num postal, que ainda não comprei. Escrever a tua morada para que uma recordação rastejante voe até à tua caixa de correio.


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Dia 7036 de viagens, entre as talhas douradas do Bósforo

Bem cedo, na desportiva
Levou-me o vento azul do Bósforo
Enrolando-se em talhas douradas
Entre pinturas de mísicas cores

Cores que tingem o meu pensamento,
Enquanto o sol forte me envolve.

Regresso ao ninho volante.
Transportada pelo vento do Bósforo
Que agora se derrete em tons de laranja.
Sobre as antigas casas vermelhas,
Que por serem de madeira
Desvendam alegremente as florestas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Dia 7035 de viagem, perdida no mais fundo dos azulejos

Rastegei por entre azuis
Vermelhos e esverdeados.
Mas os meus olhos inconscientemente
Mergulharam no ciano que
Escorria para as pérolas e esmeraldas.
O perfume, esse começou leve
E doce, com pezinhos de lã
Como quem quer passar despercebido
Mas pouca dura essa leveza
Vingam dos intensos do ar.
Lutando pelo nariz turístico
Que não regateando
Leva-o pela maior moeda.
E mesmo antes do sono
Mergulho novamente
Nos padrões e tulipas,
Que enchem todo o dia.
Conto minha cabeça com eles
Para que o descanso
Se resguarde numa
Mesquita.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Dia 7034 de viagem, terras turcas...

Luzes cintilavam pelos meus cabelos
Sem que o olhar se pudesse distinguir
Reflectia-se no sorriso infantil,
Que com uma espingarda na mão
Rebentava um a um cada balão
Cujos restos mortais o Bósforo levava.
Como outro inocente corpo corrida
Para os braços de uma provável mãe
Que mais do que olhos de erva eu não vi,
Emoldurados em todos aqueles padrões.
Pelas ruas que vagueava
Como turcos gatos
Perdidos, mas sem medo,
Como se o mundo lhes pertencesse.
Revia-me no olhar da mulher
Que subindo um escadote de madeira,
Por entre as ruínas se acolhia
Aquilo a que chamava casa.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Dia 7033 de viagem, num avião de papel

Pedi a um pequeno rapaz
Um avião de papel,
Ele deu-me um bem pequenino.
Coloriu-o com o olhar
Iluminando o novo dia.
No seu sorriso envergonhado,
Que misturava a desconfiança e o mistério,
Estendeu-me as suas leves mãos
E entre os dedos reluzia um avião de papel.
Aparentemente, feito com papel de embrulho,
Da prenda do pai natal, digo eu.
Mas não, tinha apenas sido com o olhar,
De um pequeno sorriso envergonhado,
Que ainda sabia sentir.
Foi assim que comecei a voar...
Escorreguei pelo por do sol,
Conheci estrelas pequenas
Deslizei até turcas terras