Vagueio sozinha pelas ruas de Istambul, apenas eu e a minha sombra. Sozinha, ou deverei dizer acompanhada de mim? Os meus pais já estão, provavelmente, em casa com os meus irmãos mas eu pertenço às ruas, permaneço nelas. Sigo o caminho para casa. Perco-me e encontro-me em cada esquina, em cada gesto, em cada rosto. Detenho-me. Detenho-me na luz que cai sobre Istambul, neste fim de tarde, cai e cobre todo aquele lugar... por entre mesquitas, palácios e pela manga de ouro. Principalmente sobre esta. Já não vejo o sol, mas a sua luz ainda colori o céu. E eu que ando perdida entre gestos, olhares e pessoas na rua, eu, que tanto gosto de pormenores, detenho na imensidão da paisagem, da água, da luz. Devia seguir o caminho, mas o meu corpo não se move, apenas as mãos tem movimentos esquizofrénicos para registar o momento. Mas é impossível, logo eu que odeio essa palavra.
Foi a primeira suspensão. Mal o ar volta a circular, o ritmo cardiaco a estabilizar, uma tempestade de pensamentos invade a minha alma. Um remoinho de ideias, desejos e pessoas. Algo sai disparado, quase como cuspido desse remoinho. És tu. Apenas tu.
Letras e palavras recaem em mim, como se estivesse a escrever num postal para te mandar, apenas sobre aquela luz. Mas não escrevo, estou apenas parada, sem andar. Quero chegar a casa para escrever tudo isto num postal, que ainda não comprei. Escrever a tua morada para que uma recordação rastejante voe até à tua caixa de correio.
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