quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Dia 6852 de viagem, no vazio.

Dia 6852 de viagem, no vazio.

Boa noite Marinheiros,

Não quero dizer que esteja a correr mal ou bem por causa da tempestade, acho que o problema é mesmo o vazio. Não estou mal. Mas também não estou bem. Porque não é nada. É vazio o espaço. De tão vazio nem espaço tem para algo acontecer. É apenas e nada mais que vazio. Não me leva a nada, nada muda. Permanece tudo igual, tristemente igual. Reme para onde reme, nada muda. É tudo infinitamente vazio. E neste momento eu preciso de um finito, preciso de algo. Estou naquele espaço depois de uma tempestade em que não é nada. Quando esse espaço dura pouco, quase nem nos apercebemos dele. Mas quando ele continua permanentemente rodopiando em nós, torna-se terrível. Chegamos ao ponto de querer voltar à tempestade, porque pelo menos tínhamos algo para lutar, nem que fosse para sair dela. Aqui, não temos nada para lutar, não temos nada que fazer, observamos o vazio que nada nos diz. Observamos tudo de fora, como se nada nos atingi-se nem fizéssemos parte de nada. Mas a verdade é que tudo nos toca, e é capaz de nos magoar. Mas como estamos de fora, distantes, do outro lado, ninguém vê o que nos toca, ninguém vê o que sofremos. E se não estamos mal, pensam eles, temos de estar bem. Esquecem-se sempre que há o espaço onde o nada acontece e o vazio existe. Deixamos de ser e estar. Para que a nuvem inexistente caia sobre nós, e mesmo sem existir, nos afecte por dentro.

Neste ponto é quando temos de aprender a viver outra vez. Fica a duvida: Será melhor esquecer os outros mares? E tentar viver apenas num?

Sem comentários:

Enviar um comentário